Eu, consumista me confesso, estava agora ali pelos links a dar uma volta aos blogs de fashion e, depois de passar por dois ou três num tremendo tédio, fiquei a pensar nisso e não faço a mais pequena ideia se, no final deste post, vou chegar a alguma conclusão.
Não está em causa o mérito ou a utilidade dos blogs de fashionistas (então e a nossa AnaLu que até tem o melhor do SL! na minha opinião de amiga e na minha isenta opinião – que são duas coisas diferentes), nem o post versa sobre os mesmos.
Não, o assunto é mesmo: porque (raio) vestimos nós a boneca? Claro, para não andar nua, até porque em certos sítios nem sequer é permitido. Daí que até vem de origem com umas roupinhas, que agora são muito mais giras do que quando cá chegámos. Isso deveria chegar e sobrar e, mesmo que não chegasse, o que não falta é roupa grátis, oferecida por excelentes criadores como forma de publicitar os seus produtos, que são distribuídas em lojas e nos grupos e blogadas diariamente em blogs como o Fab Free (que agora até tem um autor avataro, para que a rapaziada não fique a perder na corrida aos freebies).
[quem diz roupa diz tudo o resto: acessórios, skins e shapes, cabelos, jóias e mais um par – ou vinte – de botas e umas quantas coisas absolutamente inúteis)
Toda esta tralharia para melhorar a imagem da boneca deveria chegar e sobrar, como digo, mas a verdade é que não chega e não sobra. Tirando quem acabou de chegar, sinceramente não conheço ninguém (nem mesmo os mais ascetas) que resista a uma comprinha ou duas. Uns comprarão mais, outros menos, outros compram só “aquela coisa que é mesmo precisa” e que os outros acharão totalmente inútil. Eu, por exemplo, adoro sapatos e botas mas não me passa pela cabeça comprar naves espaciais e conheço quem coleccione espadas e afins e ache os trapos propriamente ditos uma parvoíce; ou gasto imenso dinheiro – sendo aqui o imenso relativo, como é evidente – em árvores, porque não suporto as horrorosas árvores do SL e é preciso ser-se um verdadeiro artista para se conseguir não desgraçar um local por completo, quando são utilizadas no paisagismo; vejo sítios que têm tudo para ser lindíssimos, completamente arruinados com aqueles descalabros de design do século passado, mas há imensa gente que acha isso um desperdício. Note-se que *sei* porque é que é assim e porque é que os Lindens não actualizam aquilo, mas isso não vem agora ao caso. Como também não vinham as árvores, já que estou a escrever sobre roupa e afins, mas lembrei-me.
Claro que este consumismo é apenas relativo ao avatar principal. Aos alts aplica-se exactamente a filosofia oposta à que regula a gestão de imagem do avatar: num alt que se preze não se gasta um tostão e faz -se gala nisso, tentando “produzi-lo” ao máximo para mostrar que se pode ter uma boneca espectacular sem recorrer ao visa ou ao paypal ou a outro esquema qualquer de transferência de fundos para dentro do SL. (e esfregar no nariz dos outros, como eu faço com a minha maravilhosa alt.)
Mais um aparte, tem piada isto: se os fundos circularem, já não me parece esquisitóide; o dinheiro que lá se ganha, não tem mal gastá-lo no mesmo sítio. Circulação de moeda dentro de um mesmo universo, parece-me perfeitamente ok, para mim mesma.
Mas então que filosofia é essa, a de gestão de imagem do avatar principal? Ou, trocado por miúdos, porque é que vestimos a boneca?
Para além das razões óbvias (embora não sejam óbvias para a grande maioria de gente que está fora do SL e nos acha uns perfeitos anormais quando dizemos estas coisas), como ter uma imagem coincidente com a profissão que ali se exerce ou o papel que se desempenha, uma criatura que se passeia, como eu, na verdade não tem qualquer necessidade de vestir a boneca, senão para ver que tal ficam as orelhas de gato ou quantas opções tem aquela capa ou se as botas têm atacadores que mudam de cor. Ah pois é, entramos portanto no universo da perfeita barbie, quer brincar aos vestidos. Mesmo assim, dou de barato. Toda a gente sabe que (algumas de nós, não vá eu ofender alguma intelectual de esquerda se escrever a palavra “todas”) algumas de nós, dizia eu, gostamos de brincar às roupinhas. E não vejo qualquer problema em pagarmos pelos brinquedos: lá por sermos adultos, não quer dizer que não seja muito saudável brincar às bonecas. Pouco maduro? Oh, provavelmente a conta do gás e da luz e do telefone, a prestação da casa e o material escolar para os filhos, o carro que não pega, o tempo que não chega e a roupa que não seca, já nos dão cabelos brancos que cheguem aqui fora, sem sequer chegar a referir as verdadeiras desgraças e misérias da vida.
Portanto, que se gaste algum proveniente do visa em brincar às bonecas. Já estendo o meu ok a mim mesma até esse ponto.
Agora vamos para o passo seguinte, o que já raia a demência: tudo isto não chega. Não chega só brincar às bonecas. É preciso que a boneca seja fashion. E que seja elegante. E que se vista de forma impecável, com os últimos gritos da moda sliana. Aqueles cujas fashionistas mostram nos seus blogs…ALTO! Afinal a culpa é toda delas, ora viram? Já consegui desviar a culpa de quem consome para quem dá a conhecer, afinal elas, hein, eu até estava aqui tão quietinha e vieram enervar-me com aquela última criação do designer x, o vestido, as botas, aqueles cabelos lindos e eu só tenho duzentos e setenta e cinco cabeleiras no inventário, preciso mesmo daqueles e JÁ!
Perceberam como funciona?
Vestimos a boneca porque somos gajas, vaidosas, invejosas e com a mania que somos boas. E queremos estar sempre giras e ser ainda mais giras que as outras. (e os rapazes idem aspas)
Nada de novo, portanto. O SL é tal e qual como tudo o resto.
[*suspiro* a AnaLu faz tanta faltinha, não sei o que é que saiu de novo…]
Adenda: quanto é que apostam que, não colocasse eu esta adenda e apareciam já cinquenta gajas a dizer “ah, eu não!” tal e qual como na RL, quando escondem os sacos de compras e dizem sempre que “isto é já de há cinco anos, estou farta de usar, tu é que não reparaste” e a etiqueta ainda ali à vista na manga…