Há dois meses quando entrei para aqui, pensava mais ou menos como diz a Cat num antigo post:
” […]Há alguma (dependerá das pessoas, como é evidente) ligação entre a pessoa real e o seu avatar que, no meu caso, não é muita; é uma ferramenta gira para interagir com um programa e o autor está desligado, lá atrás, a beber uma chávena de chá e a fazer outras coisas: a tendência é manter um certo distanciamento.[…]”.
Eu acho que entramos mais ou menos todos neste pressuposto, tendo no entanto (+ ou -) consciência de que isto, sendo um jogo, não será totalmente inocente, afinal não é nas pontas dos dedos que batem no teclado que acaba a pessoa e começa o avatar. Não é nos pings que a nossa máquina envia ao servidor dos Lindens que perdemos a nossa “alma” e nos transformamos num boneco totalmente manipulável. Pode parecer ridículo a quem nunca entrou, mas peçamos-lhe que manipulem o nosso boneco a seu belo prazer e vão ver como se retraem, como evitam certas situações como se da vida real se tratasse.
Apesar de tudo, o jogo continuava-me a parecer menos perigoso do que a vida real, afinal, não existia nenhum problema que não pudesse ser resolvido com um “shut down” ou, num caso extremo, um “uninstall”.
E também tive quem durante este percurso alguém que (à boa maneira do grilo do Pinóquio) persistiu em fazer-me ver as coisas de uma forma menos inocente (obrigado, Zé).
Eu ouvi e vi coisas que não julgava serem possíveis e que ultrapassavam em muito o virtual da coisa.
Comentei isto com algumas pessoas chegadas e recebi preciosos conselhos (“cover your heart”, lembras-te?). Por fim, e de confusa que estava, pedi testemunhos.
Devo dizer que ninguém mos deu. Talvez por não se quererem expor, talvez por estarem tão confusos como eu.
Porque há comunicação sim, mas é uma comunicação defeitosa, sem modulações do tom de voz, sem olhares, toques, gestos e químicas. É propensa ao engano (mesmo quando este não é propositado, porque na maioria das vezes é-o ).
Nada que não se passe na Real Life, portanto.
E lá como cá, caímos, levantamo-nos e seguimos para bingo.
O meu tempo de Shut Down chegou agora, fecho a tampa do Laptop e reparo que lá fora nada mudou, a relva tem sido aparada como sempre e o mar ainda está no canto da minha janela.
A todos os que me acompanharam lá dentro (e cá fora), obrigado (saudades, claro). Prometo vir aqui dar uma espreitadela de vez em quando.