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SL® geral

20½ anos de Second Life®

Bem sei que estou «atrasada» nesta divulgação de notícias, mas num e-zine (SL-zine?) que tem, hoje em dia, um artigo novo por cada três anos, talvez me perdoem os seis meses (e tal…) de atraso nesta notícia.

Quem sabe, talvez algures por aí ainda existam leitores assíduos do Geta que tenham subscrito/assinado a newsletter associada e/ou sigam o feed RSS, subitamente notem que «olha! aquele site que anda parado desde 2008 de repente tem um artigo novo! Mas isso de Second Life e tal ainda existe? Não era uma treta qualquer lá do início do milénio que não tinha sucesso algum?» e venham aqui dar uma espreitadela…

E quiçá dão também um saltinho ao SL, só para ver como está.

Bom, está na mesma… quer dizer, continua a existir, e também continua a existir lag. Só que… agora os avatares são muito mais sofisticados. Há fotos que se vêm por aí no Flickr que já nem sei se são mesmo do SL ou se foram feitas com essas cenas de inteligência artificial que estão tanto na moda em 2023 e 2024 (e provavelmente por aí ficarão). Mas quem tenha um computador minimamente decente (estilo o meu, que tem 9 anitos e tal) vai ficar pura e simplesmente pasmado com o salto qualitativo dos conteúdos que hoje em dia o Second Life permite. E a Linden Lab não fica por aí, de braços cruzados; está de momento a lançar os assim-chamados Physical-Based Materials (PBR), uma tecnologia relativamente recente, muito popularizada entre os jogos 3D topo-de-gama, mas também na arquitectura e na produção de cinema (e não só de animação!), que permite um grau de realismo extraordinário para os materiais que, até agora, eram muito difíceis de simular, como é o caso dos metais e do vidro (então o vidro…).

E vão haver mais novidades. Um dia destes a Linden Lab vai anunciar ao público em geral a versão mobile do Second Life. Sim, é verdade, não é mais peta de 1.º de Abril. Tem estado em testes (closed alpha), apenas acessível aos residentes que pagam Premium Pro (uma nova modalidade que dá mais dinheiro todas as semanas, upload de texturas de borla, mais Linden Homes — ou será que são maiores? Já não me lembro — e a curiosa possibilidade de ter dois objectos agarrados ao avatar que sejam animados independentemente do avatar em si; o resto do pessoal pode ter apenas um), já há quase um ano:

Isto era como funcionava no início. Agora — consta! — está muito melhor.

Porque tanto tempo para testes? Bem, como tudo na vida, todas estas coisas, quando começam, estão cheias de bugs e outros bicharocos do género. Sabe-se pouco sobre o ponto da situação desta tecnologia, pois quem a está a testar não está autorizado a falar sobre ela excepto com outros residentes que também estejam a testar. Mas sabem-se algumas coisinhas: isto funciona para Android e para iOS/iPadOS (pelo menos), e apesar de não gastar demasiada bateria (pelo menos é o que dizem), aquece imenso o telelé; o motor gráfico é Unity; é difícil controlar o avatar para que se desloque para o ponto onde queremos, o que é ainda pior quando estamos a voar; de resto, a maior parte das coisas funciona, de facto, e o comentário geral é que «é um bom princípio». Consta igualmente que os bug reports, que agora são feitos numa nova plataforma, são respondidos pela Linden Lab praticamente no mesmo dia — o que dá a entender que existe uma equipa substancial a tentar pôr isto a funcionar.

Claro que agora toda a gente se pergunta se isto irá funcionar no Apple Vision Pro. É provável que a resposta seja «sim». Aquilo que é essencial para tudo o que sejam capacetes é a possibilidade de mostrar imagens em 360º — e o Second Life faz isso há uns anos (os ditos «panoramas») — e, claro, correr nas versões móveis dos sistemas operativos da Apple (o que será o caso para iPhone/iPad, portanto…). Se isso for o caso, esqueçam lá o Zuckerberg e o Oculus Rift ou Quest — é o fim dos sonhos loucos e da ambição da Meta em «controlar o Metaverso». Não quer dizer que não tenhamos Fortnite, Minecraft e Roblox a funcionar no Vision Pro, mas terão também as suas limitações (neste momento, por exemplo, para usar Roblox com um capacete — só são suportados dois tipos — continua a ser preciso ter rato e teclado à frente. No SL isso não será necessário, logo, estará mais simplificada a interacção com o Apple Vision Pro, que só pode funcionar com gestures e com o olhar).

Mas enfim, divago. Cada vez mais, diga-se de passagem. Isto era só para dizer que cá continuamos a estar no Second Life. Cá se continua a falar em português (graças aos brasileiros, penso que o português continue a ser a segunda língua no Second Life, mas como não são divulgadas estatísticas, é difícil de dizer). E cá continuamos a ser uns 600 e tal mil utilizadores activos (mais ou menos o mesmo que em 2006; o «pico» andou por volta de 1.2 milhões, salvo erro, mas depois disso voltou a estabilizar nos 600 mil), dos quais, em média, 45 mil estão sempre in-world, a todas as horas do dia e da noite, até mesmo nos feriados. Porque em vinte anos literalmente morreu muita gente (pois, isto do Second Life continua a ter uma população «sénior»…), e não houve recuperação de novos utilizadores, o Second Life na realidade tem diminuído o número de utilizadores activos mensalmente, muito ligeiramente, ao longo dos anos (com um pequeno «pico» durante a pandemia). Mas, em contraste, as transacções dentro do Second Life são cada vez mais, e sempre em crescimento. Quer isto dizer que cada vez há mais conteúdo; cada vez o conteúdo e melhor e mais sofisticado (e não necessariamente mais caro, embora hajam algumas coisas altamente desejáveis que são, de facto, caríssimas); em consequência disso, cada vez há mais gente a comprar bens digitais para o seu avatar e a sua casa, deitando fora os objectos antigos (sculpties? Blargh. O quê, prims? Meu Deus! Isso é jurássico!) e usando o melhor que há da tecnologia mais recente. Como a Linden Lab tem estado a melhorar continuamente o seu motor gráfico, isto implica que surgem novas tecnologias que depois podem ser usadas pelos criadores de conteúdo, sendo que cada «vaga» tecnológica essencialmente varre todo o conteúdo «antigo» das lojas, e trás uma batelada de coisas novinhas em folha, prontas a serem adquiridas…

É a Gwyn num vestido laranja
Esta imagem não tem mesmo nada a ver com o texto, mas este vestido laranja fica bem com as cores do site, não fica?

E isto é assim a um ritmo que é de novo alucinante. Se estivermos offline uns bons meses e voltarmos de novo, chegamos à conclusão que um terço do nosso inventário é «lixo» que já ninguém usa. Nem o avatar do Philip Linden resistiu — ao fim de não sei quantos anos, com imensa relutância, ele lá arranjou quem lhe fizesse um avatar usando tecnologia contemporânea. Sim, ainda é «o mesmo» Philip de sempre, mas o avatar já não é o original. E isto porquê? Porque desde que o Philip voltou a chefiar (temporariamente) a Linden Lab, por falecimento prematuro do pobre do Ebbe Altman (que era adorado pelas pessoas com quem trabalhava e pelos residentes que tinham tido o prazer de o conhecer), o pessoal do marketing achou «má onda» que o CEO (hoje presidente do conselho de administração, pois há um CEO novo, bastante caladinho por sinal) estivesse a usar um avatar tão arcaico, que só dava mau aspecto nos press releases feitos por eles…

Enfim… durante a pandemia, depois da loucura total das criptomoedas, falou-se muito de Metaverso, porque como não podíamos sair de casa, se calhar valia a pena pensar em realidades virtuais para estarmos com os nossos amigos. Desde finais de 2022 que o Metaverso deixou de ser falado, pois as maluquices da inteligência artificial é que passaram a estar na moda, por serem tão polémicas quanto úteis. Mas estamos em 2024, e vai-se assistir a muitas alterações (legislativas…) relativamente à proliferação maciça e descontrolada de aplicações de inteligência artificial… e os jornalistas vão ficar todos excitados com o Apple Vision Pro, logo que consigam colocar as suas mãos nisso. Por isso, lá se vai falar dos mundos virtuais de novo — ou a tal computação espacial, como a Apple lhe chama (é um termo técnico que existe há uns anos, mas que a Apple optou por o usar para evitar as conotações agora negativas de «mundos virtuais», «realidade virtual/aumentada», e até «metaverso»).

Pelo menos durante uns meses. Depois vai ocorrer um mega-evento no mundo das criptomoedas: de quatro em quatro anos, o rendimento da mineração de Bitcoin é cortado a meio. Isto significa que os operadores que ganham dinheiro a minar Bitcoins (sem esse processo, não seria possível continuar a manter a blockchain actualizada), se não se salvaguardaram, vão ver uma redução de 50% nos seus rendimentos — de um dia para o outro. Ora alguns obviamente já se prepararam para isto (pois já viram o que aconteceu no passado); vai, pois, haver uns sobressaltos, à medida que os operadores pequenos irão à falência, e os gigantes os irão absorver; mas enquanto isto não voltar a estabilizar, o que vai acontecer é que o risco de não ser possível registar transacções com Bitcoin «tal como antigamente» vai tornar essas transacções escassas — logo, aumentando o valor da Bitcoin. Foi isso que já aconteceu em 2016, e depois ainda mais em 2020, e que levou a que, de um dia para o outro, toda a gente começasse a pensar que, afinal de contas, «o que está a dar» é apostar em criptomoedas. Depois deste evento, o que acontece é que o mercado estabiliza — os operadores pequenos dando lugar aos grandes, com a consequente maior capacidade de minagem de Bitcoin — o que por sua vez volta a fazer descer o valor da Bitcoin… até ao momento em que se começa a aproximar o novo corte em dois dos rendimentos de minagem, havendo logo uma especulação sobre que valor a Bitcoin possa vir a atingir após o «corte» (em jargão, halving — porque os rendimentos da minagem são cortados em dois). A Bitcoin começa a valorizar-se mais e mais… até ao dia D… e depois pode crescer exponencialmente, em poucos dias, para valores estratosféricos. Quando isso acontecer, os jornalistas vão colocar os seus Apple Vision Pro de lado e só falar do novo boom dos criptoactivos (por razões perversas, quando a Bitcoin se valoriza imenso, todas as restantes 8.000 criptomoedas também aumentam de valor, pois na esmagadora maioria dos casos, a reserva detida pelas entidades que as gerem é, justamente, em Bitcoin — pura e simplesmente porque foi a primeira a surgir. É complicado, mas é de facto assim — tudo está interligado!).

No meio disto tudo vamos ter a UE e os EUA a legislarem sobre o que é que as inteligências artificiais podem e não podem fazer. E depois, lá para Novembro, ficaremos a saber se os EUA vão continuar a ser a democracia com que sempre contámos, ou se vão passar a ser uma ditadura fascista (como a Índia e a Hungria), regressando ao isolacionismo (económico mas também cultural e diplomático) com as consequências que daí virão para o mundo todo. Se o pior cenário acontecer, os jornalistas irão todos «estoirar os últimos cartuchos» só a falar disto, porque a primeira coisa que as ditaduras fazem é acabar com a liberdade de expressão…

As únicas boas notícias para nós, europeus, é que agora a grid do Second Life está na cloud (na Amazon, para ser mais preciso), desde 2020, e se o Second Life for proibido nos EUA, continuará a estar disponível no resto do mundo. O mesmo, aliás, se irá passar com este e-zine, que (felizmente!) está alojado (neste momento) algures na Alemanha, país que, para já, está «a salvo» do fascismo emergente um pouco por todo o lado.

Sim, porque por cá também pairam umas nuvens de mal estar, à medida que as redes sociais continuam a envenenar mais e mais milhões de pessoas, incapazes de distinguirem o que é factual e o que são mentiras habilmente disfarçadas… é por isso que lamento imenso, mas praticamente já não uso nenhuma «rede social» das «clássicas». Seja ela qual for, vai indubitavelmente atrair todo o género de idiotas para os quais, sinceramente, já não tenho nem tempo, nem paciência em aturar.

Para mim, «rede social» é o Second Life, em que as coisas são totalmente diferentes. Se não gostarmos da cara duma pessoa (literalmente!), podemos pura e simplesmente bani-la. Se aparece um palhaço num grupo, ou num espaço privado, pode ser expulso sem estar a ser preciso a intervenção da Linden Lab. Isto tem estado a funcionar tão bem, graças às novas ferramentas de gestão do espaço, que o número de parvalhões (vulgo griefers) tem diminuído. Provavelmente já não acham piada ao SL e foram aterrorizar os newbies no Roblox. O certo é que as coisas estão bem melhores — e não é só nesse aspecto! — porque este nosso mundo virtual funciona de forma totalmente diferente das restantes redes sociais. É isso que o público em geral também não entende.

Mas ainda há centenas de milhares que entendem perfeitamente, e que é por isso que por aqui estão. Oh, não quer dizer que todos tenham abandonado as redes sociais «clássicas», antes bem pelo contrário; mas a verdade é que as coisas estão em geral muito mais calmas. Se há drama — e drama haverá sempre! — este é, regra geral, bastante mais limitado e circunscrito a uma comunidade, a um espaço bem definido, a um grupo ou outro… e é muito fácil intervir e «eliminar» quaisquer indivíduos mal comportados que apareçam nos nossos espaços e/ou grupos.

Seja como for… a Linden Lab continua sólida, financeiramente… e o Second Life continua a ser a única plataforma de mundos virtuais em que os seus utilizadores ganham mais do que a empresa em si — cerca de 60 milhões (antes de impostos…) por ano, no caso da Linden Lab; enquanto que no mesmo período, são pagos aproximadamente 80 milhões de dólares (dólares americanos!) aos criadores de conteúdo no SL. Isto, claro, de entre os dados divulgados (muito escassa e esporadicamente!). E como é também óbvio, quando esses criadores de conteúdo recebem esses milhões em L$, e os trocam por US$, vão sempre pagar uma pequena percentagem à Linden Lab pelos custos da transacção.

É, pois, no interesse da Linden Lab ter uma estratégia de negócio compatível com estes seus planos de expansão a curto prazo. E por aquilo que tenho lido, visto e falado, o modelo que eles estão de novo a implementar tem como principal objectivo um crescimento em novos utilizadores, e a disponibilização de novos conteúdos, mais sofisticados, que sejam apelativos para quem tenha capacidade de os adquirir — e há muitas centenas de milhar que têm.

Por isso, é plausível que estejamos todos aqui para celebrar o meio centenário em 2054 🙂

Podemos é estar noutros sites, noutras redes sociais, com maior ou menor integração com o Second Life. Isso agora, sim, está no domínio da mais pura especulação. O que podemos dizer, sim, «que os novos gestores da Linden Lab estão atentos à mudança e às novidades», e que (aparentemente, pelo menos) as estão a incorporar (aos poucos!) no interface cada vez mais complexo do Second Life… mas logo iremos perceber melhor qual a estratégia que vão utilizar.

Gwyneth Llewelyn
Ando por aqui a pensar que se calhar já ando há demasiados anos a escrever disparates sobre o Second Life e que já devia ter idade para ter juízo, mas a verdade é que não desisto facilmente e sou teimosa que nem uma mula!
https://gwynethllewelyn.net/