É extraordinária a velocidade com que palavras quase desconhecidas entram no vocabulário normal. Há poucas semanas, não fazia ideia do que era um avatar. Agora, é o meu avatar isto, o meu avatar aquilo, o meu avatar para cá e para lá, o meu avatar. A minha avatara, mais precisamente.
Mas que raio é isso, afinal, perguntam-me e eu explico. O avatar é um boneco virtual que faz de mim dentro do programa. Tridimensional e totalmente editável, facto irresistível para qualquer mulher. Agora é que vou fazer um boneco tal e qual como eu gostaria de ser, ou gostaria de me imaginar ali no Second Life®.
Partindo de uma base de escolhas, homem/mulher/criatura que nem vi bem mas parecia um coelho, há algumas categorias básicas depois: girl next door, sex and the city girl, allnight partying girl, os nomes não são exactamente isso, mas não tirei notas. Limitei-me a andar com aquilo para a frente, ainda nas pressas de ver mais e vai de girl-next-door, que é o que eu sou. A total limitada nestes assuntos informáticos, o completo erro de casting para um blog destes: sou uma espécie de vírus inofensivo do programa: não deveria estar ali, deveria estar na cozinha a mexer a sopa ao lume. Mas lá está: a democracia na net permite-me tudo o que eu quiser, incluindo tetrapacks de creme de cenoura na vida real e avatares na vida virtual.
Escolhido o template do avatar, encontrado o espelho para edição, percebo que posso alterar o template todo (mantendo a característica base de ser uma rapariga e não um coelho). Por mim ficava ali o resto da vida a brincar às bonecas de html (ou lá o que seja a linguagem ali utilizada): recorta aqui, engorda dali, põe os braços mais curtos e as pernas mais compridas, os olhos maiores e os cabelos mais compridos, lábios mais grossos, sobe a saia, desce as calças, pinta as unhas, desenha botas e luvas, experimenta tecidos (patterns, muito úteis, todas as que forem oferecidas é de aproveitar) e cores e finalmente chego a uma triste e frustrante conclusão:
Mesmo escolhendo tudo mas tudo mesmo, mesmo subindo e descendo as maçãs do rosto, mesmo decidindo qual a distância entre a boca e o nariz, a curva do queixo e a as covinhas nas bochechas, não sou capaz senão de inventar uma criatura esquisitóide à brava.
Não nasci para o desenho, está visto.
(* título descaradamente roubado de um dos livros de Stephen R. Donaldson)