relação e reacção ao SL®

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Enquanto que a esmagadora maioria dos residentes do mundo do Second Life® tem passado o seu tempo livre a assitir aos milhentos eventos do 5º Aniversário do Second Life (sim, é verdade, há cinco anos apenas que o SL abriu as portas ao público), uma parte substancial da comunidade académica e científica portuguesa que investiga activamente no Second Life — ou dá aulas, ou recebe aulas — esteve no campus da Universidade de Aveiro, na segunda edição da que é actualmente a maior conferência portuguesa sobre o SL: o cef^SL, congresso sobre Comunicação, Educação, e Formação no Second Life.Digo “actualmente” e a “maior” porque certamente não é a única; só no ano passado tive a honra e o prazer de ir a três. Curiosamente, enquanto que o ano de 2007 foi claramente muito mais mediatizado (os jornalistas apinhavam-se literalmente à porta das salas, esperando obter uns minutos preciosos da organização ou da Robin “Linden” Harper, vice-presidente da Linden Lab, e que foi uma das keynote speakers em 2007) — podem ver algum desapontamento pela “falta de mediatização” expressa nas linhas escritas pelo tpglourenco Forcella — a conferência deste ano até teve mais participantes que no ano passado, tanto fisicamente em Aveiro como via Second Life na ilha da UA. E do ponto de vista de quem está apenas com um pezinho no meio do mundo académico, as comunicações deste ano mostraram muito mais trabalho desenvolvido, muito mais sério, e muito dele com bastante relevância não apenas para o trabalho dos investigadores em si, mas talvez surpreendentemente também para a totalidade dos portugueses (e não só!) residentes no Second Life.

Tratou-se de uma conferência académica. É completamente diferente, em espírito e em objectivo, de uma conferência de fãs do Second Life, que provavelmente teria um aspecto e uma estrutura muito diferente. O objectivo principal foi sem dúvidas o de todas as conferências científicas por este mundo fora: dentro da área de investigação sobre e com o Second Life, mostrar aos seus pares aquilo que se está a fazer, quais os temas que têm merecido linhas de investigação, quais os trabalhos futuros, quais as conclusões já chegadas. Se os trabalhos do ano passado pareciam promissores, notava-se ainda que se estava “no início” de um forjar de laços e cumplicidade entre colegas, procurando obter apoios, ideias, e comentários sobre o que faria sentido investigar. Este ano, no entanto, apresentaram-se principalmente resultados. E alguns dos quais foram francamente inspiradores.

É um pouco injusto, do meu ponto de vista, estar a dizer quais as apresentações de que “gostei” mais — vou caír no ridículo de elogiar o mérito do orador, ou a capacidade de prender a atenção por parte deste ou daquele investigador, ou ainda o potencial interesse de determinada área de investigação que tenha relevância para o meu trabalho pessoal. Peço desde já desculpa a tantos ilustres professores e investigadores que andam a fazer os seus trabalhos, contra tudo e contra todos, há quase dois anos, se não os menciono. Não me levem a mal!…

Em primeiro lugar é importante compreender o processo de selecção. À excepção de algumas sessões, que não foram “científicas” — nomeadamente as mesas abertas sobre media e sobre negócios no SL — as apresentações e comunicações foram avaliadas pelos seus pares. Isto significa que foram revistas e analizadas com cuidado pelos mais conceituados investigadores nacionais, reunidos em Conselho Científico para esta conferência, quanto à relevância e qualidade dos artigos. Houve quem resmungasse, diz-se nos bastidores. Contam-se rumores de um ou outro membro do Conselho Científico que tenha recusado este ou aquele paper por ter falta de qualidade. É mesmo assim que as coisas funcionam. Os papers e posters vão ser publicados posteriormente numa revista — com as actas do congresso — e vamos estar presentes com um documento resultado de investigação científica feita com rigor académico. Para quem está fora destes meio, poderá ser estranha tanta “burocracia” ou “insistência” em pormenores que possam ser “irrelevantes”. Mas é assim que se faz ciência, e é importante que esta seja rigorosa. Afinal de contas, são as carreiras de muitos (e bons) investigadores científicos que estão em causa: são estes os verdadeiros heróis da conferência, professores e investigadores que nos últimos dois anos têm “arriscado” a sua carreira, muitas vezes com receio de serem considerados “ridículos” pelos seus colegas mais próximos, pelo facto de andarem “a brincar aos jogos de computador” — especialmente numa altura em que os media se têm afastado do Second Life ou continuam a sua inglória tarefa de denegrir a importância do mesmo enquanto a tecnologia mais disruptiva desta década e que continua sem ser reconhecida como tal – excepto, claro está, por umas vastas dezenas de milhares de investigadores científicos que não desiste do seu trabalho usando o Second Life (e entre os quais se pode contar talvez uma centena de portugueses).

A esmagadora maioria dos presentes na conferência já se conhecia há algum tempo. Não são propriamente “estranhos”. Ao contrário do que acontece noutras áreas, a investigação científica, mesmo em Portugal, não conhece barreiras nem isolamentos, e há muito mais colaboração e cooperação do que isolamento. Embora sejam notoriamente rara a presença lisboeta neste tipo de encontros, as universidades e centros de investigação deste país, em especial a norte do Tejo e fora do concelho de Lisboa, trabalham imenso em conjunto. Criam grupos de trabalho inter-universitários, andando os professores numa roda viva a visitar todas as capelinhas deste país, viajando desde o profundo interior da lindíssima Vila Real até ao exuberantismo gótico de Santarém para trabalharem no mesmo grupo, no mesmo tema, e com grupos de alunos dispersos pelas diversas instituições. Hoje em dia, mesmo em países como Portugal, já não existe a “prisão” do campus fechado onde o aluno entra e sai professor sem nunca ter visto o que se passa do lado de lá da cerca.

Parece-me perfeitamente natural, pois, que toda esta gente se agarre ao Second Life como uma plataforma que lhes permita vencer com ainda mais facilidade a barreira da distância geográfica, barreira essa já de si enfraquecida no seu trabalho diário, visto não obrigar a fazer centenas de quilómetros de carro ou comboio para se juntar aos colegas. É assim que empresas sediadas em Lisboa podem ceder uma sala virtual a uma apresentação feita por um professor português fisicamente em Espanha ao abrigo de um trabalho de doutoramento feito por um aluno em Rio Maior com colaboração de investigadores de Vila Real. Isto acontece todos os dias, seja no mundo real, seja — com maior conforto para todos os envolvidos — no Second Life.

O cef^SL é justamente o culminar de todo este movimento de inter-ajuda, colaboração, cooperação, e quebrar de todas as barreiras. E talvez mais inspirador tenha sido ver que pela primeira vez não se limitou ao mundo académico e científico, mas saltou também para o espaço da acção social e empresarial. Assim, o cef^SL é igualmente o maior evento mixed-media em Portugal. A participação — seja como orador, seja como observador — podia ser feita tanto fisicamente em Aveiro, como remotamente via Second Life, através de um espaço criado na ilha da Universidade do Aveiro, para a qual todas as sessões foram transmitidas em vídeo. O surreal e o real tocam-se quando a câmara focava a audiência no auditório do Departamento de Mecânica na UA (que alojou as sessões de 5ª e 6ª feira): metade dos presentes estavam sentados frente aos seus portáteis ligados à Internet, prestando aparentemente pouca atenção às sessões, mas na realidade estavam ligados precisamente na mesma sala virtual, a assistir à sessão de dentro do Second Life, e a conversar avidamente (mas silenciosamente!…) no chat público, comentando assim a sessão e cada orador sem estarem a interromper. Estes mixed-media events sempre foram para mim a expressão mais forte do potencial do Second Life pelo facto de conseguirem “tocar” nesta estranha dualidade de estarmos ao mesmo tempo em dois espaços físicos: um real, um virtual, mas sem barreiras nem descontinuidades entre ambos.

Mas vamos às sessões. Talvez seja primeiro de salientar a ausência principal deste evento: o nosso incansável amigo Andabata Mandelbrot, professor na UTAD, que já foi entrevistado aqui no GETA. Foi pai na 4ª feira e tirou, obviamente, uns dias para se regalar com o seu rebento — e mais uma vez os meus parabéns — mas deixou-se representar no cef^SL com uma vasta quantidade de alunos e colegas que participam num número astronómico de projectos. Se não o conhecesse pessoalmente, pensaria que o Andabata era um avatar usado por pelo menos uma dúzia de pessoas, dado ele parecer ser omnipresente em tudo o que se faça em termos de Second Life em Portugal. Sempre original, ao contrário de muitas entidades que têm capacidade financeira para suportarem as suas próprias ilhas (ou obter parcerias estratégicas com sponsors que as paguem), o Andabata e o seu núcleo de investigação começou a trabalhar numa skybox alugada à Anshe Chung. Agora a UTAD tem felizmente um espaço muito mais digno, gentilmente cedido pela ARCI (entidade que participou bem activamente no cef^SL deste ano, apresentando uma comunicação sobre o trabalho que têm desenvolvido com deficientes físicos e mentais no SL, assim como o lançamento de um novo e-zine sobre SL), e se alguma coisa marcou a sua presença este ano, foi o seu avançadíssimo conhecimento de libsecondlife, uma tecnologia capaz de replicar toda a funcionalidade do cliente SL (e muito mais) sem necessidade do mesmo. Isto permitiu-lhes mostrar um simulador de tácticas de andebol (feito em colaboração com a universidade em Rio Maior com o Twins Reisman) e um sistema de controle de acessos a salas de aula, em parceria com a PT Inovação, cujo membro Rubik Lungu, veterano de tudo o que sejam tecnologias de comunicação online há várias décadas, tem feito esforços sobrehumanos para manter a presença do “braço” de I&D da Portugal Telecom sempre activo no Second Life, não só em Trás-Os-Montes, mas igualmente no seio da Universidade de Aveiro, que sempre colaborou — e continua a colaborar! — com a PT Inovação.

Sendo actualmente a escola portuguesa com mais avançados conhecimentos na área da programação no Second Life, não é de estranhar que qualquer outra entidade, no âmbito dos seus projectos, tenha sempre pedido ajuda à UTAD para os implementar… daí o Andabata e a sua miríade de alunos e colegas estejam com um pezinho em quase tudo o que se investiga sobre SL em Portugal.

Mas o foco desta conferência não foi, de facto, as ciências da computação, mas as da educação, nas suas inúmeras vertentes. A Cleo Bekkers, que é sem dúvidas a pessoa mais querida que alguma vez tive o prazer de conhecer graças ao SL, envolve-se num dos projectos mais disruptivos que conheço: a análise e o tratamento minuciosos do SL enquanto ferramenta de ensino. Ano passado deixou-nos a todos surpreendidos pelas conclusões preliminares a que tinha chegado: as aulas dadas no SL sobre assuntos SL (como criar roupas, como programar, como construir, como personalizar o nosso avatar) tinham uma maior assiduidade de alunos, que retinham uma enorme quantidade de informação dada pelos formadores, tinham um nível muitíssimo mais elevado de qualidade e organização, do que as aulas dadas “no mundo real”, recorrendo ou não a tecnologias sofisticadas. Se fosse outra pessoa a dizer isto, poderíamos sorrir, ou comentar que “era uma questão de opinião”. O trabalho da Cleo, no entanto, é ciência: uma vez publicado, só pode ser refutado se um grupo de investigadores procurar tratá-lo cientificamente (como ela e a sua equipa fizeram) e chegar a outras conclusões. Mas até isto acontecer, trata-se de conhecimento científico, uma coisa que ainda faz muita confusão na cabecinha das pessoas. É que eu agora sou malandreca e quando os meus clientes me dizem que “não acreditam muito nisto do SL enquanto ferramenta de ensino”, eu posso apontar-lhes o trabalho da Cleo e dizer: é um facto científico e actualmente indisputável de que o Second Life é uma plataforma de ensino muito superior às alternativas. Já não é a minha “opinião” ou o meu “feeling“. É ciência. É um facto tão científico como a Terra andar em volta do Sol. E se quiserem contradizer a Cleo, têm de investigar (usando o método científico) e chegar a conclusões opostas. Até agora ainda não o fizeram, portanto, a ciência da Cleo mantém-se válida, e posso citá-la sem problemas com o meu sorrisinho arrogante. 🙂 Obrigada, Cleo, por nos dares a nós, que por este mundo caminhamos a martelar na cabeça das pessoas que o SL é uma aposta válida, os factos científicos para dar sustentabilidade à nossa argumentação! (e só posso desejar muitos e mais trabalhos nesta área para de uma vez por todas se acabar com as “manias” de que o SL “não serve para nada”). Ainda por cima, a Cleo deixou, a título de desafio, uma lista de áreas de investigação futuras sobre o Second Life, muitas das quais tocam em pontos a que sou muito sensível, como a questão da “identidade”, das relações entre as pessoas, da personalidade, e do papel do avatar enquanto representação virtual de uma pessoa bem real.

Gostei igualmente imenso do trabalho da Sara Pita (cujo nome de avatar infelizmente não me recordo…) sobre a Interacção entre Avatars, um pouco na linha de artigos anteriores apresentados já por universidades estrangeiras (o principal dos quais sendo provavelmente o trabalho realizado por Nick Yee, apesar da polémica). As conclusões da Sara incidiram (entre outras) sobre a ausência de utilização de Gestures, que são substituídas por smileys ou outras formas textuais de expressão de emoções. Quem me conhece sabe que passo horas a criar Gestures 🙂 pelo que sugeri à Sara que a razão principal pela qual ninguém as utiliza é a interface do SL ser péssima quanto aos Gestures; outros mundos virtuais, como por exemplo o IMVU, automaticamente convertem smileys em linguagem corporal, e acrescentam imensas opções (como moods, que funcionam no fundo como uns AOs adaptados pacientemente a um determinado estado de espírito) — coisa que no SL é possível de fazer (e bem melhor!…) mas que é muito pouco usado por ser justamente difícil. Ficou o repto para se estudar mais sobre esta área que, como disse, sempre me fascinou!

Seja como for, esta questão das “opiniões”, que podem ser disputadas e contestadas por quem quiser ou por quem berre mais alto (por apenas serem opiniões…), ao contrário das formulações científicas, que só podem ser contestadas por quem investigou o assunto, aplicou-lhe o método científico, e publicou um resultado validado pelos seus pares, é algo que para mim é fundamental. Farta de opiniões parvas estou eu!… e mando também as minhas, é claro… mas cada vez mais, graças aos investigadores nesta área, tenho podido “acumular” argumentação baseada em ciência e não “opinião”. E é muito bom ver muita desta ciência ser made in Portugal.

Assim, assisti também com imenso interesse à apresentação da Universidade Católica Portuguesa, cujo professor de arquitectura micael Allaert veio apresentar também uma série de resultados e conclusões relativamente à forma como se deve construir no Second Life. Num mundo em que mais de 99% dos construtores são amadores bem intencionados (os restantes 1% são arquitectos, engenheiros civis, artistas, e designers, ou seja, pessoas que tiveram uma formação académica para os ajudar a desenvolver melhor as suas construções), é muito difícil justificar porque é que o trabalho de um arquitecto no SL é “melhor” do que o de um amador que cola umas prims assim às três pancadas e lhe chama “um objecto arquitectónico” — e que tem muitos amiguinhos depois a darem-lhe pancadinhas nas costas a dizer “tens tanto jeito para isto!…”

A dura realidade é que a arquitectura é, efectivamente, uma ciência. E um arquitecto (nas palavras do micael que provavelmente vou citar mal…) é alguém que é treinado para aplicar uma metodologia a um problema (a criação de um objecto arquitectónico): combinar forma e função de uma forma óptima. Não interessa se um arquitecto é chamado pela primeira vez na sua vida para desenhar um estádio, um aeroporto, uma central nuclear, uma estação espacial… ou um edifício no SL. A metodologia a aplicar em qualquer um destes casos é a mesma, e estudada e conhecida há séculos (ou mesmo milénios), e é, acima de tudo, científica. Há metodologias que resultam, e outras… que não. Os amadores bem intencionados até podem, ocasionalmente, com sorte, “acertar” no que fazem. É por isso que vemos, muito raramente, uma casita no meio da Beira Alta que até parece menos mal feita. No entanto, a esmagadora maioria delas será pura e simplesmente horrível (e funcionalmente falhará em quase todos os aspectos…) porque construir uma casa não é apenas assentar tijolo de maneira que não caia. Da mesma forma, construir um espaço no SL não é apenas “colar prims” uns aos outros e espetar-lhes com uma textura colorida. Pode dar imenso gozo, e obter imensos comentários simpáticos de amigos, mas não é um objecto arquitectónico.

O papel da equipa orientada pelo micael foi também descobrir quais as regras a que estão sujeitas as construções no SL, usando precisamente a mesma metodologia que qualquer arquitecto cientificamente aplica às suas construções de pedra e cal, e explicar que os resultados são efectivamente óptimos. Depois podemos, claro, “gostar” ou “não gostar”, mas essas avaliações subjectivas estão um pouco para além da questão. Objectivamente, um edifício é construído segundo uma metodologia correcta, ou não o é. Qualquer arquitecto saberá distinguir entre os dois casos — mas nós também, quando no SL batemos com a cabeça do avatar nas traves da porta (ou nem chegamos com o nosso avatar à maçaneta), ou perdemo-nos porque a câmara ficou “aos pulos” perdida num labirinto de paredes, ou porque a cadeira em que nos sentámos ficou virada para um lado que não interessa — ou, mais frequentemente, porque o espaço em que nos deslocamos é “confuso” e não percebemos para que serve.

Aguardo, pois, com expectativa, que o paper da UCP seja publicado em toda a sua extensão, pois tenho a certeza que muita gente vai ficar surpreendida. E, mais uma vez, para mim isto significa que passo a ter mais um trunfo na manga, quando o cliente resmungar que pode contratar um puto durante um fim de semana por L$500 para lhe fazer “um escritório”. Pois pode. Como na vida real qualquer trolha sabe assentar tijolo, mas para construir um estádio de futebol ou um hospital — ou um parque tecnológico, ou um edifício de escritórios — é realmente mesmo fundamental o trabalho do arquitecto.

Esta não foi a única sessão sobre “regras de construção de um espaço”. Com uma abordagem diferente, a Escola Superior de Educação de Santarém, através da Rocio Barbasz e da Anitia Loire, apresentou uma metodologia de como uma instituição pode (ou deve!…) planear e desenvolver a sua própria presença virtual institucional no SL, mesmo que não tenha (inicialmente) conhecimentos para o fazer. Foi uma espécie de “receita” para chegar a um resultado final de qualidade impressionante, filmado pelo nosso maior cineasta de machinimas português, o Halden Beaumont, recentemente nomeado para um prémio no Festróia (consta que ficou em segundo lugar…).

Nas sessões “não-académicas” faço o destaque para o debate sobre o papel dos media nos mundos online, com um foco (naturalmente) no Second Life, moderado pelo PalUP Ling e que contou com a presença de um jornalista da Agência Lusa, o Paulo Rego, e um jornalista espanhol, o Luis Beso, que recentemente escreveu (sem ter o SL em mente) um livro chamado Metaversos. Para mim o ponto mais alto do debate — já envolvendo a audiência!… — foi quando houve uma certa crítica à forma como lamentavelmente os media estavam a retratar o Second Life, ou, pior, a ignorá-lo (apontando para a ausência este ano de câmaras das televisões nacionais na sala, ou microfones das rádios, ou ainda jornalistas de caneta e bloco de notas na mão, como aconteceu no ano passado). E aí Paulo Rego brilhou dando uma verdadeira sessão de educação cívica sobre o papel do jornalista na sociedade: não andar por aí num carrinho e com um papel a dizer “Imprensa” no chapéu, como víamos nos filmes de Hollywood dos anos 40, mas sim ser informado, filtrar essa informação, correlacionar fontes, obter informações contrárias às expressas, e resumir tudo num artigo de qualidade que seja, efectivamente, notícia. Ora aqui a crítica foi feita à comunidade de utilizadores do Second Life: não sabem fazer lobby para que os jornalistas escrevam, efectivamente, sobre o que se passa “por aqui”. E neste mundo onde agências de comunicação competem ferozmente por um quadradinho num jornal, ou uns segundos de imagens na TV, esse papel tem de ser activo e jamais passivo. O jornalista não “adivinha” o que se passa. Ele tem de ser informado primeiro! Lição para a audiência: se querem que se fale mais (e positivamente!) sobre o SL em Portugal, não fiquem nas vossas cadeiras sentadinhos à espera que as notícias apareçam, mas agarrem nos jornalistas que conheçam (e desconheçam!) e obriguem-nos a escrever sobre o SL. Eles pensam que “já não há notícias”?… é porque não lhes dizemos o que se passa. Bom, falando por mim, aprendi a lição. Obrigada, PalUP, pelo trabalho em encontrares um profissional da área que soube explicar o trabalho do jornalista, sem ingenuidades e sem papas na língua!

Da minha parte, apenas acrescentei mais um pequeno toque de surrealismo que envolveu esta conferência. Houve duas comunicações de professores brasileiros que foram feitas via SL; mas haviam brasileiros na audiência. O Pathfinder Linden, por motivos familiares, não pode estar presente para o seu keynote speech, mas fê-lo via SL, mostrando o tipo de projectos educativos que estão a aparecer no SL, feitos por entidades que há muito se libertaram da noção de que a sala de aula virtual deve ser um conjunto de cadeiras e um projector de slides — enquanto que um professor de direito americano, o Justice Soothsayer, falou presencialmente sobre propriedade intelectual e como se aplica ao SL. Na minha mesa redonda, em que se falou um pouco sobre modelos de negócio inovadores (desenvolvidos por portugueses!…), estavam sentadas duas pessoas (vindas de Lisboa) na mesa na UA, mas quem assistiu ao evento via SL, viu uma mesa redonda com três avatares… pois uma das participantes, embora morasse a pouca distância do campus da UA, não pode estar fisicamente presente à hora da sessão por questões pessoais. Foi um pouco esta sensação de realidade/surrealidade que me atraíu imenso nestas duas edições do cef^SL.

E como não podia deixar de ser, houve também sempre espaço para o convívio social. Na boa tradição do SL, à noite, a horas perfeitamente impróprias, toda a gente se juntou num dos bares da moda de Aveiro, chamou-se um DJ de propósito para animar a malta, e lá confraternizámos — pelo menos alguns, os mais resistentes, capazes de aguentar horas e horas seguidas sem dormir e estarem fresquinhos no dia seguinte para mais uma “ronda” de apresentações e conferências! Os mais fracos em termos de “resistência nocturna” ficaram pelos amplos coffee breaks e almoços oferecidos pela organização, que criaram oportunidades para se falar sobre um pouco de tudo — mas, quase sempre, sobre o Second Life. 🙂

Foi sem dúvidas um cef^SL melhor do que o ano passado, com mais participantes, e que abarcou igualmente gente de fora do meio académico: nomeadamente, duas comunidades portuguesas (com a presença do rocky Musashi e da Nyne Wolfe, e do tpglourenco Forcella), a megashop-no-SL da Aral Levitt, e duas empresas portuguesas, a PT Inovação e a Beta Technologies que continuam a apoiar este tipo de iniciativas (e que o irão decerto fazer durante muitos anos). A organização, liderada pelo Carlosss Lukas, o zes Garfield, e o Antero Eun, não estão “apenas de parabéns”. Merecem uma estátua, ou uma medalha de mérito nacional em prol da ciência e da educação. Se vivessemos num país civilizado, teriam uma placa de bronze no Ministério da Ciência e Tecnologia oferecida pela nação reconhecida pelo seu trabalho. Infelizmente neste jardinzito à beira-mar plantado pouco mais do que recebem de uma centena de pessoas um MUITO OBRIGADA, muito sincero, em nota de rodapé de um blog obscuro. Mas a verdade é que foi principalmente graças a estes três que a comunidade científica e académica portuguesa se reuniu em torno de um projecto comum — usar o Second Life, estudar o Second Life, aprender com o Second Life — mostrando que se trata de uma área válida para a investigação científica nacional, e, dentro das nossas modestas capacidades nacionais, apresentando trabalho feito que em nada envergonha o que se faz por esse mundo fora. Graças a eles, não estamos “atrasados” na investigação científica que se faz em torno do Second Life: estamos ao mesmo nível, sem vergonhas e sem complexos. Graças a eles também quebraram-se mais barreiras, mostraram-se modelos já em voga lá fora (a colaboração inter-universidades) e como estes funcionam perfeitamente no caso nacional, e criaram-se novos laços de amizade, de colaboração e de cooperação, a um nível a que, pessoalmente, não estou lá muito habituada. Esta gente toda que tem aparecido em Aveiro faz parte de uma contra-cultura no Second Life nacional — que é cheio de micro-grupos fechados e isolados que se odeiam e se combatem ferozmente entre si — e mostram, felizmente, que nem todos que por cá andamos fazemos parte dessa mentalidade mesquinha, provinciana, de mentes fechadas e pequenas. Alguns sonham mais longe. Com pragmatismo: estas pessoas fazem disto a sua carreira profissional enquanto investigadores e professores, não o fazem por um “ideal maior”. Mostram, através de actos, como é possível colaborar — mas uma colaboração a sério, onde ambas as partes vêem os seus interesses salvaguardados, todos beneficiam do trabalho em conjunto — sem invejas, guerras, “facadas nas costas”, ou outras pilantrices a que infelizmente as “comunidades” portuguesas no SL nos têm habituado.

Para mim, claro está — e sou muito suspeita a emitir estas opiniões!… — vejo o futuro do Second Life sempre risonho enquanto houver gente disposta a olhar para mais além do que o seu umbigo. No meio académico e científico português, não há dúvidas que isso está não só bem presente, mas que há pelo menos dois anos que é assim que se trabalha. Para o ano pode não haver cef^SL, mas vai haver algo talvez mais ambicioso (e em certa medida mais arriscado…), uma primeira conferência “totalmente virtual”, o SL Actions. Decerto notarão que se trata de um evento internacional mas com organização dos “suspeitos do costume” que têm sido os pilares da investigação científica nacional no SL.

E fico-me por aqui. Decerto que muitos terão imenso que criticar os aspectos negativos do evento, mas estes — se os houve!… — ficaram completamente ofuscados pelo brilhantismo da organização, da qualidade dos participantes, do trabalho em conjunto ao longo de tantos meses, e da grande amizade pessoal que se tem estabelecido entre as centenas que fielmente têm passado pelo Second Life e que o tornaram uma parte das suas “primeiras vidas”.

A imagem que ilustra este artigo é retirada do Flickr stream do cef^SL e o seu copyright pertence à Universidade de Aveiro.

Gwyneth Llewelyn
Ando por aqui a pensar que se calhar já ando há demasiados anos a escrever disparates sobre o Second Life e que já devia ter idade para ter juízo, mas a verdade é que não desisto facilmente e sou teimosa que nem uma mula!
https://gwynethllewelyn.net/