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GETA interview – Andabata Mandelbrot

Andabata

O Andabata Mandelbrot é o avatar de Leonel Morgado nascido em 2006, mais precisamente a 25 de Abril de 2006. O percurso do Andabata centrou-se, desde Maio de 2006, na utilização da plataforma como meio de aprendizagem com os seus alunos de doutoramento e, mais tarde, nas aulas de programação com alunos da licenciatura em Informática. Poderão encontrá-lo no Laboratório de Programação – UTAD, Portugal. É neste local que decorrem as aulas e entregas de trabalhos. No entanto, este SLurl deixará de ser válido brevemente…
A UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), pela mão do Andabata Maldelbrot, foi a primeira presença universitária portuguesa no SL. Mas o Andabata não teve o apoio da universidade como foi e é o caso da UA (Universidade de Aveiro) e da UP (Universidade do Porto) tendo os custos de compra de terreno (e tiers) sido inteiramente suportados pelo docente.


1 – Como descobriu o Second Life e o que o motivou a criar uma conta?
Foi uma sequência de notícias online no Slashdot.org, que acompanho regularmente. Já na altura a temática de “jogos” e de “ferramentas de criação” me interessava pelas possibilidades de uso na educação, pelo que as referências ao Second Life me despertaram a atenção. Mas não criei logo conta, por falta de tempo. À medida que o tempo passava, ia lendo mais notícias e percebendo um pouco melhor o que era. Até que a certa altura decidi, em conjunto com dois colegas investigadores, os agora avatares B3n Canto e Gud Gaudio, delinear uma área de trabalho onde pudéssemos unir esforços. O B3n Canto é especialista de trabalho colaborativo, o Gud Gaudio em e-learning e eu em programação e criação como forma de aprender melhor, pelo que surgiu a ideia de trabalharmos com os mundos virtuais. O Second Life já surgia como forte candidato a ferramenta para este fim, mas não a única.

2 – Muitas pessoas desistem do Second Life na primeira semana ou no primeiro mês pelos motivos mais variados sendo que o mais comum é não se saberem orientar. O que determinou a sua permanência no SL durante todo este tempo e o que o motiva a voltar dia após dia?
Na altura, ainda existia uma ilha de orientação com um percurso que acho muito melhor do que o actual e entediante tutorial. Como sou naturalmente curioso, avancei como se um jogo de aventura ou RPG se tratasse, no qual tinha de conhecer com atenção os pormenores para não ficar encravado. Por isso fui seguindo religiosamente os primeiros 5 ou 6 placares informativos e as actividades propostas. Não achei nada difícil. Depois ignorei os restantes e fiz-me ao mundo. Na altura podiam-se criar objectos à vontade na ilha de orientação, pelo que até isso pude experimentar à vontade.
É verdade que não fiz grande coisa de início: voei um pouco por aqui e ali, vi as paisagens, até ao primeiro crash., mas continuei a seguir as notícias e fui voltando de tempos a tempos, para ir experimentando o ambiente. De cada vez me fui apercebendo mais e mais das potencialidades para as pessoas poderem criar as suas coisas, à sua maneira – e isso é algo que acho fundamental na minha visão da educação, pelo que me fui embrenhando…

3 – Como ocupa o seu tempo no SL?
Praticamente só a trabalhar. Ou seja, vou acompanhando as notícias sobre o que se passa e vou ver para conhecer. De vez em quando tenho uma ideia e vou lá experimentá-la. Volta e meia algum aluno tem algo para me mostrar e vou lá ver. Outras vezes estão os alunos encravados e tenho de ir tentar descobrir forma de os ajudar.
À medida que me fui embrenhando e acabei por ir conhecendo gente, passei a juntar à actividade profissional uma ida ou outra a algum convívio social, como concertos ao vivo ou confraternizar n’O Caneco. Também a minha filha vê o pai e gosta de conhecer e aproveito para ir até algum sítio agradável para crianças, como as paisagens submarinas junto farol do Guincho ou os jardins da ARCI.

4 – Alguma vez desistiu do SL? (Porquê? )
Não. É das plataformas mais “equilibradas” que encontro enquanto mundo virtual. Equilibra bem a liberdade que dá e as potencialidades que oferece, de um lado, com a facilidade de utilização dessas potencialidades, de outro. Há alternativas nos mundos virtuais mas geralmente sacrificam alguma coisa: uns têm mais ferramentas de desenvolvimento, mas são só para clubes fechados e é necessário gastar muito tempo a aprender a usá-los… e mais ainda a tentar fazer com que os potenciais utilizadores os experimentes e usem. Outros são muito simples de usar mas pouco mais permitem do que conversar e fazer uma ou outra personalização com objectos previamente definidos.

5 – O que mais lhe agrada mais e menos no Second Life?
Adoro o posicionamento como base para podermos criar em comunidade, em vez de serviço “pronto a comer”. Adoro as possibilidades de ligação ao mundo exterior e de interpenetração mútua entre os sistemas informáticos exteriores e o Second Life.
O que menos me agrada é a falta de orientação que existe para apoiar utilizadores de forma massificada: ou ficam à deriva, ou têm de sofrer um tédio enorme num tutorial longo, ou então ficam numa casinha de bonecas que os faz pensar que estão num jogo, como os espaços ligados ao CSI Nova Iorque, sem noção do que podem fazer. Não é resposta haver espaços alternativos de orientação, que só servem a quem lá chegar por indicação de outra pessoa, mas que passam ao lado de quem faz o normal, que é ir a www.secondlife.com e puxar o cliente.
Acho que o problema é teimar-se em ter uma abordagem “genérica” de introdução que parte do princípio que todas as pessoas são iguais. Tive alunos que não percebiam (nem eu) porque é que tinham de andar a aprender a anexar uma tocha a uma mão dentro de um castelo, se estavam numa aula de programação – e essa era uma das tarefas do tutorial na altura.
Podia haver uma fase logo após o registo de perguntar ao utilizador o que quer fazer, se socializar, se programar, se ter aulas, etc. – e a partir daí fazer uma orientação focada no essencial (andar, voar, sentar-se, alt+click…). E todas essas orientações deviam levar o utilizador a socializar e a perceber que por trás dos avatares estão pessoas reais, que podem ajudar. Uma visita guiada a pontos com actividade social devia ser parte essencial da introdução, em vez de se achar que as pessoas só podem aprender como parte de um jogo.
Aliás, estou disponível para tentar planear este tipo de introdução “em movimento” e ajudar a implementá-la.

6 – Descreva-nos o seu percurso no Second Life.
Não me lembro! Tenho memórias vagas de estar aqui e ali… de não saber fazer alguma coisa e descobrir aos poucos… Quando tive uma noção das potencialidades de programação acabei por decidir usá-lo como aspecto motivador para alunos do 2º ano de Informática, numa disciplina de programação, e arrendei um terreno. Continuei a explorar e a trabalhar… e vou andando!

7 – Relate-nos um episódo ou episódios caricatos que lhe tenham acontecido no Second Life.
A certa altura andava à procura de vestes para ter um aspecto menos banal e seguindo o conselho de uns vizinhos do terreno que arrendo fui até ao Grendel’s Children, um sítio giríssimo onde podemos arranjar uma série de objectos de fantasia, inclusivamente ser um dragão ou outro ser místico. Sei que experimentei se uma espécie de espírito, um “wisp”, que é basicamente um ponto de luz verde baça. O problema foi que um wisp é pequeno e por isso dobra completamente o avatar, pelo que quando despi essa forma continuava com a cabeça metida no meio das pernas e os braços enrolados, como uma espécie de ultra-contorcionista. E o pior é que na altura não sabia como havia de fazer para corrigir a posição e a qualquer momento podia ter de me apresentar perante alunos! Foi uma preocupação e tanto… Hoje parece ridículo.

8 – O que é, para si, o Second Life: um jogo, um metaverso, um mundo virtual?
Uma plataforma. Um ponto de partida para fazermos coisas. Acho que é o que era a Web em 1995: um sítio onde todas as empresas tinham de estar e que muita gente ia conhecer, mas onde quase ninguém sabia muito bem o que havia de fazer, além de meter lá uns textos e umas fotografias… Ia-se visitar um sítio ou outro às vezes só para ver se existia. Pode-se chamar “metaverso”, é uma palavra engraçada. Pode-se dizer que é um mundo virtual – porque é. Mas acho que com o passar do tempo será um espaço tão natural como a Web. Se será o Second Life ou qualquer outro espaço novo que entretanto surja é que não sei.

9 – Alguma vez teve problemas relacionados com a plataforma? Se sim, como o reportou e qual a sua opinião do feedback por parte da Linden Labs?
Muitos! O mais frequente é ficar-se sem ligação e, em vez de parar tudo, ficar o avatar a andar sem parar numa direcção, como se estivesse tudo bem. Não faz sentido nenhum e desorienta, acho que devia ficar claro ao utilizador que estava sem ligação ao servidor. Também frequente é o cliente simplesmente rebentar ou encravar. Já tentei usar o sistema de comunicação de erros, que gentilmente oferece para enviar um relatório à Linden Lab, mas desisti: seja qual for a velocidade da ligação, começa-se a transmitir o relatório de erros e 5 horas depois ainda se continua a transmitir, sem se poder usar o Second Life. É ridículo.
Um problema mais grave é o facto dos termos de utilização não permitirem a utilização por crianças. É também ridículo, tão ridículo como alguém dizer que as crianças não poderiam usar o Internet Explorer, o Firefox ou o Opera. Tenho projectos de investigação em curso que estão a avançar com outras ferramentas só por causa disso. Tentei ultrapassar o problema falando directamente com a Linden Lab, a Robin Linden até foi extremamente atenciosa e tentou várias vezes conseguir que a parte jurídica conseguisse preparar um acordo específico que salvaguardasse a possibilidade de poder preparar um contexto de investigação seguro, bem controlado, onde usássemos o ambiente para crianças poderem desenvolver várias actividades lectivas – já sucedeu uma vez com uma escola americana, pelo menos. Mas pelos vistos, fazer isso nos Estados Unidos é um processo jurídico moroso e complexo, pelo que nunca foi possivel aos juristas da Linden Lab arranjar tempo para trabalhar nisto atempadamente.

10 – O que mudaria no Second Life?
Várias coisas. A fixação nos Estados Unidos, para começar, pelos problemas jurídicos que acarreta. Penso que sucederá em breve, mas ainda não sucedeu. A Internet hoje não seria o que é se os servidores todos tivessem de seguir as leis norte-americanas.
Também alterava as limitações de ligação ao exterior. É fácil aceder do SL ao exterior, para registar algo numa base de dados ou para a consultar. Mas se eu tiver um serviço que precise de ir ao SL fazer alguma coisa, só disponho de um serviço lento e pouco fiável, o que obriga a contorcionismos desnecessários. E devia ser possível colocar uma página Web como textura de um prim, para poder mais facilmente interligar o Second Life com o resto da Internet.
Também a linguagem de programação é aceitável, mas podia haver alternativas: manter o LSL para coisas simples e disponibilizar um pacote mais profissional para coisas mais volumosas.

11 – De todas as possibilidades oferecidas pela plataforma e pela Linden Labs, conhece e utiliza todas as funcionalidades disponíveis?
Não, nunca! O engraçado de uma plataforma “genérica” e de “criação”, como o SL, é que nunca conhecemos as funcionalidades disponíveis, porque estão sempre a ser inventadas novas formas de as usar. E já agora, alguém conhece e utiliza todas as funcionalidades disponíveis da Web e da Internet em geral?

12 – Quais são os seus projectos actuais e futuros no Second Life?
Criar uma comunidade de investigação em informática aplicada que utilize os mundos virtuais para ajudar as pessoas a aprender melhor, a serem mais criativas, a conhecer melhor o mundo.

13 – Daqui a 5 anos, o que será o Second Life? Consegue projectar a carreira do seu avatar nesse médio prazo?
Será uma presença comum nos ecrãs dos internautas vulgares ou uma nota histórica de como há 5 anos havia o Second Life que deu origem ao (então actual) Internet3D. Provavelmente chegaremos a uma página Web e teremos como parte dela uma janela para o que se passa no espaço Second Life associado à página, no qual podemos navegar de forma anónima (avatar genérico) ou fazer login e andar com o nosso avatar. Teremos muitos casos de aceder ao SL ou ao fictício Internet3D como forma alternativa de comprar alguma coisa, de conhecer um destino turístico ou de trabalhar e estudar em conjunto.
O meu avatar até lá talvez arranje tempo para ter um aspecto menos abonecado… até talvez arranje um pacote de gestos que lhe permitam expressar-se! Não terá uma carreira diferente da minha… continuará tão ligado e associado a mim como o meu e-mail.

14 – Tem alguma sugestão de alguém que gostaria de ver entrevistado neste espaço?
Da comunidade portuguesa, o Rubik Lungu da PT Inovação e o Twins Reisman da Escola Superior de Desporto de Rio Maior.
Da comunidade internacional, o ToonTalk Toonie, investigador da Universidade de Oxford. (Ofereço-me para traduzir a entrevista, se necessário.)

A 1ª universidade portuguesa em SL foi a UTAD (I)