SL® geral

Dois anos de Second Life (livra!)

Pois é. Não se está exactamente no mesmo tom que há um ano. Dois anos, já é muita fruta. E depois, o meu próprio tom, neste blog, também mudou. Mais eu, provavelmente, sem cá paninhos com rendinhas e pézinhos de lã.

Dois anos e a ilha 100Limite faz um. No dia do meu primeiro rezzaday, recebemos a confirmação que estava online. Foi uma coincidência feliz e uma forma simpática de comemorar, a berrar Sporting! (eu, o Miguel e a Analu) e FCP (o Gio) pelo menu do estate. Acho que nunca uma ilha foi inaugurada tão clubisticamente, ainda antes de começar a riscar o terreno e fazer desenhos na areia. E de chegar o Cocas, que tem sido a alma daquela ilha.

Este segundo ano foi um ano cheio de coisas. E, lá está, um ano cheio de coisas boas fora do SL. Porque o primeiro ano é giro, o segundo é uma grande seca. Passei-o a chegar e a desandar, sendo que as chegadas eram breves e as partidas longas. Passei meses a entrar uma vez por semana, limpar prims do terreno e bazar. O SL *encolher de ombros*, sinceramente, bof. Entro lá para meter a converseta em dia com as minhas amigas e pouco mais. Umas vezes vestir a boneca, outras dar umas voltas, mas tudo isto (tirando as conversas bestiais que temos ali) com muito pouco entusiasmo e sempre a pensar que me apeteceria mais ver um filme ou escrever qualquer coisa ou ler um livrinho ou até olhar para o tecto e pensar em nada.

Não lhe tiro – ao SL – qualquer qualidade. Continuo com curiosidade em certos temas um bocado mais abrangentes, na parte económica, na viabilização do programa, nas escolhas (estúpidas) da empresa, no futuro daquilo, sim, interessam-me algumas coisas, mas não é ali dentro que as encontro e sim cá fora, nas leituras que vou fazendo e nas conclusões que vou discutindo com duas ou três pessoas que entendem bem o SL como um todo. Continua a interessar-me como tema, continua a fascinar-me como alternativa de comunicação, como ferramenta e meio. Como conjunto de pessoas e interactividade entre as mesmas, não me interessa muito. Acho que é tema para doutoramentos em psicologia e sociologia, dará ou estará a dar para estudos incríveis nessas áreas, mas a mim essa parte das pessoas diz-me pouco até porque tenho as minhas próprias teorias, pouco ortodoxas, sobre as pessoas no SL. Acho que ou se distanciam, ou não são bem elas mesmas, agarram-se a merdices que eu fico absolutamente pasmada; para assistir a momentos maravilhosos de absoluta alucinação generalizada, leiam-se os comentários das malucas todas num qualquer post polémico do blog Shopping Cart Disco, por exemplo: é às centenas e uma pessoa a passar a vista em cima daquilo e a pensar: são todas doidas, só pode. Mas não são, de certeza: o SL é que causa uma certa euforia/envolvimento exagerado em cenas macacas, acima de qualquer comportamento normal. Ora eu já não defendo, como até há pouco tempo, que quase toda a gente que ali anda é doida varrida. Ná. Quase toda a gente é normalíssima da silva, a culpa é mesmo da submersão no meio. É um bocado como quando se jogava Tetris (lembram-se?) Não havia mais nada senão a porra das peças a encaixarem por todos os lados. Ali, não há mais nada senão aquela coiseca mais cretina do mundo naquele preciso momento, mas o mundo está limitado àquelas coisecas e então a malta passa-se.

Distanciamo-nos dois milímetros (basta isso ou vá, vinte centímetros, que eu vejo mal, ou que seja um metro, tá um sofá confortável) e basta para se perceber que

nos últimos dois anos de SL andei a perder – apesar do tempo que me desliguei – tempo precioso com coisecas que eram as coisas mais cretinas do mundo.

E distanciando-nos, as coisas verdadeiramente importantes, no SL e fora dele, porque as que são importantes no SL, passam a ser cá fora também, tomam a sua verdadeira proporção. Há uma coisa que não muda, são as pessoas. Sim, não me interessam como um todo, mas individualmente, são a única razão que me mantém ali, não obstante poder estar com elas cá fora. Mas naquele dia tal, em que apetece é uma conversa fiada ou séria ou de gargalhadas ou de confidências ou de maldizer e que não se pode sair porta fora e ir ter com essas pessoas porque a RL não permite, ali estão, à distância de um login e de um IM.

Tal como fiz há um ano, dedico este meu ano de SL a várias pessoas que estiveram comigo em certas alturas mesmo importantes: às minhas queridíssimas amigas Analu e Leilah, que estiveram sempre, ali, no email, ao telemóvel, sentadas na esplanada ou na mesa do jantar. À Gwyn, com quem partilho preocupações gerais, ideias malucas e que me vai ensinando o que é o optimismo no futuro do SL. Ao Cocas, alma do 100Limite, amigo de boas ondas sempre, explorador de coisas maradas. À Summer, a minha maior arqui-inimiga de sempre, o que prova que a amizade, quando é do fundo do coração, sobrevive a tudo.

Acima de tudo, ao Miguel. Ausente mas presente. Sempre.